domingo, 28 de fevereiro de 2010

Travessa da Bota

Estava frio. Os três saltitavam de assunto em assunto, sem esperar pelo diálogo. As palavras guiavam-nos para fora dali. Nascia um dia de Sol o que estava a ser raro naquele Inverno severo, diluviano, inacabável. Sentiam-se libertos e renovados. Jonas parou de repente. Acharam que ele se tinha esquecido de alguma coisa. Mas não. Era a bota. Enterrada na lama por distracção. Bem enterrada que a lama era muita. E espessa. Ao tentar retirá-la saiu o pé, descalço. Com a meia, ridícula, às riscas. Desequilibrou-se…pé no chão, enlameado. Uma risota à sua volta vinda não só dos amigos como dos outros passeantes. Jonas não se decidia. Iria rir ou praguejar? Já não era uma meia aquilo que calçava, era um pedaço de lama colado ao final da perna. E estava com esse novo prolongamento de si, hirto, esticado, quase paralelo ao chão, quando “clik” um japonês dispara uma fotografia. “Bom. Muito engraçada. Por favor, toma meu cartão. Exibição proxima mês Tokyo. Photos. Três todos invitados.”. É simpático da tua parte, amigo, e qual será o título: Évora, o lugar onde Judas perdeu as botas? Não! Mas sorriu, impávido. Obrigado, é muito simpático...Quer...? por favor esteja à vontade…E fez tantas tantas poses quantas lhe foram pedidas. Desenterrou finalmente a bota com a mão, calçou-a, mesmo assim, imunda. E juntaram-se aos dois japoneses para um almoço que se tornou animado. Trocaram os ditos cartões de visita. Estavam quase amigos. Naquilo em que a bebida aproxima. Jonas nesse momento já lamentava, para si: é uma pena, só me fotografaram a perna...

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