quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Rua do Inverno

Devolves-me o aceno com um semi-sorriso de quem se esgotaram as últimas palavras. Ainda puxo por ti, a querer tirar-te da manga do casaco uma memória boa que te reluza nos olhos. Não consigo. Estendo-te então a mão e aceito conformado que te vais, enquanto assisto ao rasto do entardecer que deixas, quando atravessas a rua, só, para o lado dos jacarandás. Tiveste 7 anos como eu. 25 com filhos já na escola e a seguir os 40 dos primeiros netos. Depois a longa rotina até aparecer o reumático e aí o Outono, breve como as horas dos dias até mudar a estação. Estou cansado e sento-me à sombra rala da tília enquanto assisto ao teu dissipar trémulo, por baixo dos ramos nus das árvores, à procura do sentido. Vejo-te ao longe e confundo-te agora, retorcido rugoso e escuro, com as troncos que te rodeiam. Chegámos com eles ao Inverno, jacarandás sem folhas. Eles vão esperar pelas flores.

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