quarta-feira, 10 de junho de 2009

Nau


O meu barco é nau descobridora

Amarrada em doca seca

Ancorada no largo

Portas de Moura a espreitar a Sé



De lá, marujo

Assomo-me à vigia e vejo

A planície onde lavro os versos e semeio

A catedral altaneira onde, em incenso

Deixo as preces da partida



Só espero o vento

A lua certa

E que a maré me leve



E.

Évora, Junho 2009

terça-feira, 9 de junho de 2009

Travessa do Diabinho

Estava borrado de medo. Era ali que ela morava. Ainda hesitou uma, duas vezes, voltando atrás a querer passar despercebido. Não havia volta a dar. Era agora ou nunca. Pigarreou a limpar a garganta seca. Compôs a melena. Deu um jeito às calças e lá foi. Devagar. Devagarinho, a ouvir cada pedra branca da calçada a dizer-lhe - não és homem, não és nada - e cada pedra preta, grilo-falante, a dizer-lhe - pira-te rapidamente daqui, olha que ainda vais a tempo - e sem dar por ele lá estava no 37. Bateu ao de leve. Com a esperança a apertar-lhe a barriga e a sentir-se a mirrar de pequenino, que a Rafaela não estivesse ali. Mas estava. Sorriso rasgado em meia-lua, decote generoso, um ar desgrenhado a despentear-lhe os cabelos aloirados - Olá menino...entra que não temos a noite toda - Disse enquanto ajeitava a saia e o arrastava para dentro, a pô-lo à vontade, como tinha feito a tantos magalas de malas aviadas para Cabinda. Não tardou 5 minutos e já estava porta fora. Zonzo. Apardalado. Aliviado do pré e feito homem. Ó diabo.