quarta-feira, 7 de julho de 2010

Largo Mário Chicó

Pedes-me que te escreva palavras azuis. Podias pedi-las em vermelho, em verde oliva, amarelo limão, em branco. Facilitavas-me a vida. - Não! Escreve-me com palavras azuis.
Precisei esperar que o cinzento carregasse o céu, para que as pudesse ver todas. Em sobressalto. Anunciadas por trovões ao longe na improbabilidade de um recanto escuro do jardim do chá, na casa nobre atrás da Sé. Já há dias as tinha procurado fora das muralhas, a olhar para a planície árida, mas a secura do pó em remoinhos ocre não deixou que se escrevessem na paisagem. Procurei-as à noite, no chão pisado das ruas mas a miopia das pedras escondeu-as. Estava demasiado escuro para aparecerem, Esperei por elas, de olhos fechados em silêncio. Não vieram. Encontrei-as hoje por fim, desenhadas pelo punho de pintora em palavras multicor, num legado feito de telas repartidas. -Um azul cerúleo para voar alto. Um azul cobalto para a felicidade. Um azul ultramarino para estimular o espírito. São estas as palavras, azuis, que me pediste. E é na tela alheia que tas dou, onde me foram oferecidas sem eu ter dado conta. São tuas agora. Faz delas o que quiseres.

(Palavras azuis por Maria Helena Vieira da Silva, para serem desfrutadas em texto aqui)