quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Rua do Alfaiate da Condessa

Quando lhes queria prender a atenção, zás: “era uma vez um botão assassino”. Funcionava melhor que a história do “fecho éclair estrangulador” ou a do “velcro escalpelizador”. Esta história de índios pós-far-west, adaptava-se como uma luva quando o tema das histórias era o futebol e se dedicavam, com imagens vídeo, a escalpelizar os jogos da jornada anterior. Além de gerar algum burburinho, fruto das preferências clubistas, as meninas sentiam-se menos atraídas, de alguma forma discriminadas.

Elas preferiam a história do “fecho éclair estrangulador”. Mas aqui os meninos, sempre apreciadores de decotes, queriam era corrê-los. Ao contrário. No sentido inverso da falta de ar. O resultado, como se pode imaginar, pouco brilhante, gerando uma vez que outra, alguma falta de decoro, pois algumas meninas achavam graça à brincadeira.

A nossa contadora de histórias tinha tentado tudo. Desde o clássico “Capuchinho Vermelho”, já surrado de tanto uso que mais parecia, centenária gorra republicana; passando pelas versões da mesma história, onde estavam proibidas a utilização de vogais, ou de palavras, que produziam efeitos fantásticos na acção, desaparecendo, por exemplo, o lobo quando os Ós estavam vedados. De facto, quando esta vogal é mais verdadeira ou seria U. Porém, o que calava na audiência era, o botão.

Ele, em si, não fazia mal nenhum. Aliás, sem ser em série 007, com toda aquela parafernália tecnológica, nenhum botão comete homicídio. O problema é o tamanho das camisas. Aquele botão, estrategicamente colocado, estabelece a fronteira entre uma apertada ou desapertada. A Condessa gostava delas como só o Silva lhas sabia moldar. O seu alfaiate, Felício da Silva, deixava-as de forma que o botão adquiria uma vontade irreprimível de deixar de cumprir a sua função. Tornava-se – justamente – decisivo no ânimo do Conde. Enciumado, um potencial assassino de vítimas alegres. Enfim, os homens não são de ferro!

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