segunda-feira, 20 de julho de 2009

Travessa do Capitão

Não era nome de rua. Era de prato. Esguio, mas prato. Que bem se comia em casa do Capitão! Também Capitão não era posto. Nem patente, sequer! Era parente – isso sim – de um antigo oficial de cavalaria, bruto, mas de grande prestígio. Quer na terra, quer na corporação. Como ia dizendo, Capitão era apelido.

Então, nem era rua nem lá morava ou havia morado, qualquer militar. Também não era ele que tinha os dotes culinários. Este homem, que parecia um equívoco, gerava ainda mais. Vejamos: travessa de loiça que não artéria da cidade; prato esguio e prato estreito. Mas não é de porcelana nem de faiança. Do que se trata, são os famosos Pezinhos de Coentrada do Sr. Capitão servidos em travessa e não em prato redondo e coberto como pertence no Alentejo. Prato pesado, mais próprio do frio que do estio.

Embora não fosse capitão de patente, tinha um impedido. E o impedido, embora o fosse, sempre disponível para exibir os seus argumentos de cozinheiro. Ele conseguia fazer lagosta de abrótea – dizia-se à boca pequena para não ferir a generosidade do Capitão, hospitaleiro e vaidoso do seu grande tesouro, o seu empregado. É que, na Travessa do Capitão, a hospitalidade e a convivialidade são as donas da rua.

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