quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Tavessa da Campina

Lá ao fundo começava a campina! “Planície extensa sem povoações nem árvores”, segundo reza o dicionário de língua portuguesa mais consultado na Net. Hoje, a definição não se aplica. Só se tivessem deslocado para fora de portas, a Travessa. Ou, nem isso! As árvores – palmeiras, sobretudo – mais que muitas e as casas dos resorts de luxo, cem vezes as dos montes. Tá bom de ver!

Obra do Alqueva. O lago, como sempre, é o maior da Europa. Pode regar a relva dos campos de golfe que dão mais do que os borregos, no Alentejo. Quando foi construída era uma velha aspiração dos agricultores do sequeiro. Como levaram tanto tempo a fazê-la, os ditos morreram sem não antes passarem pelas aventuras dos anos setenta que muito os maçou e depois por todas as PAC que muito os acomodou ao dolce fare niente que a União inventou para substituírem os ranchos por empregados de escritório e o feitor por técnico em regulamentação agrária. Os agricultores não têm culpa nenhuma. Isto assim dá mais jeito aos da cidade.

Então, os aldeamentos turísticos geram emprego no Turismo e antes, na construção civil. Geram mais crédito à habitação e criação de instrumentos financeiros como os fundos imobiliários onde se pode aplicar o capital. Para não falar dos time-sharing. Os trabalhadores rurais viram jardineiros, os aguadeiros como uma curtinha reciclagem viram barman. A Base Aérea de Beja, aeroporto internacional, desafogando a Portela e assim Alcochete já não faz falta e isso se calhar já é mau para os construtores que entretanto já tinham feito o alargamento de Beja. Não de pode ter tudo. Agora, a LTU, famosa companhia de charters germânica transporta uma carrada de alemejanos, como lhes chamam carinhosamente os alentejanos. Habituados às cálidas águas de Palma de Maiorca, quando eram mais pequenos, trocaram a praia pelo golfe, a canoagem e a pesca do achigã.

É vê-los depois de uma partida de quatro buracos e meio – 25% do que era habitual – porque agora o que interessa é o taco da manhã. Hábito importado da caça, o taco é a paragem para o pequeno-almoço e inclui normalmente umas tirinhas de presunto e uma linguiça e farinheira assadas acompanhadas de um belo branco alentejano que estão cada vez melhores, por influência dos alemães que os querem mais frescos e menos alcoólicos que os dos primórdios. A seguir ao taco são mais quatro buracos e meio e almoço no Club House. Uma bela açorda feita pela campina – a da Travessa – que embora o marido tenha deixado de tratar do gado bravo e agora guie cortadores de relva não deixou que a mulher – cozinheira de mão cheia – perdesse o nome como ele a profissão.

Sem comentários:

Enviar um comentário