segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Travessa das Nunes


Eram danadas. Por onde quer que passassem deixavam atrás de si um rasto de perfume e de vontade no nariz dos homens. Mafalda era a mais velha. Dava ares de amazona. Cabelos longos, sedosos, onde o sol se reflectia de tal maneira, que quem quer que olhasse cegava de vontades. Mafalda era alta. Com as curvas todas no sítio por baixo da justeza permanente das calças apertadas`ao cano das botas. Era um portentado da natureza. Dois vulcões espartilhados quase a entraem em erupção a rebentar os botões da camisa branca, imaculada, que lhe ornamentava o busto. Mafalda tinha a tez bronzeada. Olhos rasgados, longos como amêndoas amargas, inebriantes e doces. O nariz fino prolongava as linhas magras da cintura de vespa. Mafalda era boazona. Ninguém lhe ficava indiferente. Mafalda era a mais velha. A mais vistosa. Já Beatriz, era roliça. Cara redonda e olhos azuis que lhe enchiam o rosto por cima das faces coradas de calor e de desejos. Tinha o rabo empinado e cheio em duas grande bossas que lhe queriam sair das mini-saias exíguas, com que sempre se aperaltava. Beatriz era uma meia-leca. Talvez um metro e meio de traquinice a compensar, com despudor, a sombra que a irmã lhe fazia. Usava sempre o mesmo perfume com forte cheiro a baunilha, cravo-da-índia e hortelã com uns farripos de dálias do outono.. Era assim um agri-doce que despertava uma vontade voraz nos transeuntes. Nunca tinha conseguido fazer um outro assim. Inigualável e irrepetível. Beatriz sabia que só com cheiro é que chamava a atenção. Era tipo engodo da pesca, onde o aniz misturado com farelo fazia as delicias das bogas que picavam de boca escancarada os anzóis dos pescadores. Beatriz tinha visto o seu pai repetidas vezes na Barragem do Divor a usar a técnica. Infalível e fatal. Por isso, desde nova, que aprimorara a arte dos odores. Preferia os cheiros orientais misturados com as ervas aromáticas que comprava na praça nos sábados de manhã. Deliciava-se noite dentro nas alquimias misturando cravinho com patchuli, incenso esmagado com coentros, canela com folhas de louro. Juntava tudo muito bem. Esmagava. Moía. Filtrava e no final preenchia com essências florais a tornar os odores bem femininos. Irrepreensíveis. Completos e fatais.
Mafalda pegava com admiração nas novidades que Beatriz acabava de fazer e colocava uma gota em cada pulso primeiro. Depois um toque suave atrás de cada orelha e o ar enchia-se dos mais inacreditáveis cheiros e de volúpia. Beatriz abria mais um botão da camisa justa e colocava bem no meio dos seios duas gotas de perfume. Do seu perfume de sempre. Deixava que escorressem levemente pela barriga inundando os refegos num banho de vontades. Depois saiam para passear. Vagarosamente. Meneando-se. Pavoneando-se. Deixando que as atenções dos homens se prendessem irresistivelmente naquela mistura inebriante de continentes e vulcões. Eram danadas as Nunes... Bastavam 5 minutos e já tinham um marialva colado à cauda. A babar. Transtornado. Apardalado. Pronto para a festa. Metiam conversa e e levavam-no a reboque, sem esforço, duas ruas à frente e entravam os três no 31. Subiam dois lanços de escada e faziam o que tinham a fazer ao pobre coitado. Azar do bicho, a coisa passava-se na Rua do Capado. Ui. Eram danadas as Nunes...

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