sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Rua dos Aferrolhados




Cárcere não existe e ninguém se lembra.



Cáceres é distante. A terra do presunto Joselito – o mais “exquisito” de Espanha – antes ficasse próxima e teríamos o manjar dos Deuses – no dizer de Ferran Adriá – dentro de portas. Nem teria importância se ficasse fora das portas, se à beira do nó da Transalentejana.



Os aferrolhados, pela sua condição, não precisam de um cárcere. E Cáceres não é Cárceres e assim sendo, a que propósito vem para aqui o presunto de Guijuelo? O que viria a propósito seria o de Jabugo. Bem mais próximo de Évora – do outro lado dos barrancos de Barrancos, onde os portugueses são mais espanhóis.



Mas os aferrolhados nem sequer precisam de cárcere. Ou seja, a associação a Cáceres é meramente fonética mas vale, pelo menos, para fazer crescer a curiosidade e o desejo por um grande produto.



Os aferrolhados podem estar ao ar livre que é grande castigo à hora da calma. Mas, calma! Porque ninguém disse que os aferrolhados o eram de facto, com grilhetas e bolas de ferro presas aos pés.



Tratar-se-ia antes, de gente condenada ao ostracismo. Impedida de prosseguir a sua verdadeira vocação. Suspeita tratarem-se dos primeiros gastrosexuais surgidos na Península Ibérica. Assim, a bem dizer, avant la lettre. Justamente em Évora, onde o Arcebispado não os teria visto com bons olhos, em face dos costumes e da moral. Porque o costume, era a hierarquia ter uma palavra sobre as Barrigas de Freira e outros doces conventuais, além das mais variadas açordas e ensopados.



Quem nunca se pronunciou foram os frades, dedicados aos fogões com enorme mestria mas, votados ao silêncio. Aliás, que era como se devia votar, sempre!

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