terça-feira, 8 de setembro de 2009

Travessa das Invernas


Felisbela era invisível,
Não se via não se percebia, era totalmente anónima
Tristão era o seu pai, sua mãe era a tristeza.
E a rapariga ainda moça de nada se apercebia
Só lá para adulta sentiu uma claustrofobia
seguida da ausência da luz da alegria.
E à primeira partiu, emigrou.
Correu mundo, partiu só.
Ninguém deu por nada quando regressou.
Mas Felisbela mudou.
Entre os colegas do hotel onde mais trabalhou
Pela ingenuidade que tinha ou fosse o que fosse ou não fosse,
foi de todos a que mais corações cativou.
Felisbela era diferente e de todo transparente.
Foi colhendo amizades, coleccionou simpatias,
aprendeu a rir a conversar a perceber que afinal
era uma mulher que se via.
Mas a mãe morreu, o pai Tristão ficou só
e por isso Felisbela voltou.
Perdeu o Verão, perdeu a cor, mas continuou teimando,
no passeio dos anos, que mais vale ser transparente
invisível até do que ser altivo ou andar em bicos de pé.
Felisbela era o que era sem pensar no que se é.
Com esta percepção só encontrou recompensas.
Ao passear pela vida reuniu uma famosa colecção
de criaturas iguais às criaturas iguais
e criou a fundação das anónimas eternas.
Felisbela e as sócias da fundação,
mexeram-se determinadas deitaram mãos à obra
e instalaram-se com entusiasmo já no inverno dos seus dias
na mais luminosa travessa daquela cidade
que passou a chamar-se a Travessa das Invernas.

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