quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Rua Carta Velha


A Carta Velha tinha um ginete daqueles.
Orgulhosa e teimosa, segura de si
Olhava-se ao espelho e não se entendia
mas achava-se fantástica mesmo assim.
Descolorada pálida ou rabiscada tanto lhe fazia
mirava vaidosa as palavras trocadas diante de si.
Roberto que arrumava a memória queria ver-se livre dela
Mas carta velha não se deixa vergar.
A mim ninguém me desfaz! Escreveste, fiquei escrita.
Não vais anular esta letra bonita.
Roberto, exasperava, agarrava-a com força,
pressionava firmemente os indicadores contra os polegares
e num movimento rápido zás
Mas o diacho da carta velha saltava, gargalhava estrebuchava
pois deixar-se rasgar era só o que faltava.
Roberto tentou queimá-la mas ela não ardia tentou amarrotá-la, afogá-la
mas a carta resistia, resistia, respirava vida por cada palavra que tinha.
Ela estava decidida, carta escrita não se desescreve.
Mas este Roberto não era fantoche e decisão sua não se contraria.
Pôs a carta em cima da mesa e que fez?
escrevinhou por cima dela! ”
"e agora, és nova ou velha?”
A carta velha não gostou.
Engoliu as letras novas comeu-as todas inchou.
Ficou um balão e voou.
Mas diz-se por aí que A Carta Velha voltou.

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