quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Becco do Beiçudo



Não tenho penas, o que convenhamos se revela uma profunda chatice quando este corpo me pede cada vez mais para voar para longe daqui. Maldito Eco que me desenhou desengonçado e simbólico e sem qualquer utilidade. Gostava de ser mais do que esta montra reflexiva para outros. Signo e abstracção concreta e de discutível gosto. Gostava, já agora, de ter algum uso e proveito próprios. Ser um pouco mais que simples semiótica para fazer pensar outras cabeças. A minha, de facto, de pouco me serve com esta disformidade de ter de comer palha e, quando o rei-faz-anos umas cenouras. Aliás, eu sei, que essa coisa das cenouras foi a única razão para esta escolha. Motivo de sobra para fazer pensar o poder da recompensa na ponta-do-pau-futuro, razão para galopar para o desconhecido. Pôs-me também orelhas irrequietas a seguirem sempre o som das distracções das mensagens, o que me dá o desprazer de um grande desassossego e amiúde fortes dores de paciência. Se tivesse penas e asas saía imediatamente deste texto e ia dar um valente par de coices na gramática do Eco, isto se em vez de rabo de sereia tivesse cascos de gente. Mas não. Tenho é mais outros detalhes simbólicos de utilidade duvidosa e pouca praticidade. Rabo de sereira, para fazer pensar morbidamente na sensualidade-da-impotência-fatal-do-canto-impossível-dos-amores. Sim. A solidão do Eco feita cauda de bicho impossível de consumar e eu a ter de gramar com este desconforto de perna só. E não nos ficamos por aqui neste absurdo conceptual com que o Eco me escreveu, certamente numa deambulação onírica acordado a ver as constelações a desenharem-me no céu estrelado de Pisa. Vestiu-me também com a pele aspera de serpente, numa figura-de-estilo muito óbvia de mudança de estação. Estou farto deste não-ser. Desta sátira-sátiro a despropósito escrita numa noite de azia com a vida. Farto de ser semântica e semiótica. Preciso que me ponham asas ou me apaguem.. Queres dar-me uma ajuda?

(Este texto , extra-blogue-mas-já-agora-também-serve-e-publica-se-na-mesma, teve como mote o seguinte TPC dos co-autores aqui do burgo:

" À primeira vista não passava de um ser que juntara o seu corpo humano a uma cabeça equina, com cauda de sereia
e escamas de serpente"
Humberto Eco
= o que aconteceu a este homem para se transformar nesta criatura?
)

Outro AQUI e o outro ALI

3 comentários:

  1. Deixa que a tua Luz brilhe e te mostre o Caminho que espera pelos teus passos e, de vez em quando... VOA, sem perder de vista o chão!!!

    Beijos

    ME

    ResponderEliminar
  2. Caríssimo:
    esta fotografia é minha e foi aqui colocada sem a minha autorização. Tenha a decência de a retirar, sff.
    Maria Sangreman

    ResponderEliminar
  3. Foto retirada com pedido de desculpas. E.

    ResponderEliminar