sábado, 29 de janeiro de 2011

EXTRA - Lisboa Largo do Chiado (III)

Cheguei à conclusão que andamos às avessas do Chiado. Não por embirração, mas andamos.

Ele nasceu em Évora e veio para Lisboa. Ao contrário das Ruas Ermas, maioritariamente nascidas em Lisboa e todas a morarem em Évora. Ele tomou nome de rua lisboeta – na verdade chamava-se António Ribeiro. Nós pretendemos reescrever as ruas eborenses. O normal é dar nome à rua. Foi o que Garrett fez à sua, em 1880. Jamais, tomar o nome da rua onde morava.

Fez-se Franciscano, não para ser pobre, que já o era. Aproveitou os seus talentos para aprender a juntar letras; o que se agradece, pois a sua natural aptidão para a tunanteria jamais teria passado à posteridade, só pela oralidade. Mas os preceitos da ordem também não iam com a sua personalidade e portanto, acabou noutra cela, de menor recolhimento – a do cácere.

Contemporâneo de Camões, foi Bocage, avant la lettre. Boémio e trocista, grande imitador, sempre de hábito clerical vestido – tê-lo-á trazido do mosteiro – conta-se a história de, haverem entrado ratonários em sua casa, lhe terem levado o melhor que tinha; tendo visto os larápios carregando os seus haveres, resolveu segui-los, levando consigo alguns pertences que haviam deixado; já cansado de os perseguir, perguntou-lhes: “para onde é que nos mudamos?” Com ainda maior sentido de humor, os malfeitores devolveram-lhe o furto. Não sabemos se lhe arrumaram a casa…

À laia de compensação, por em 1880 haver trocado o nome à rua – de Chiado para Garrett – a Câmara Municipal inaugurou-lhe estátua em 1925 e, ao mesmo tempo, devolveu a sua alcunha ao Largo das Duas Igrejas. Hoje, que o largo se fez maior, escorreu em várias direcções. Todos querem ser Chiado!

NOTA: Texto escrito a propósito da apresentação do livro em Lisboa no dia 26/1/2011.

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